sábado, 23 de abril de 2011

Audax Peregrinação - Volta

Cheguei à praça central e fui procurar algum 'raça laranja'. Demorou um pouco até encontrar algum. Juntos saímos para procurar os outros. Demos uma volta na praça empurrando a bike e fomos encontrar mais 3 bikers do nosso grupo quase em frente à Igreja Matriz. Através deles fiquei sabendo que o biker com o qual tinha combinado de voltar pedalando já tinha retornado, pois ele tinha chegado cerca de 1 hora antes. Mesmo assim, ainda pretendia voltar de bike, mesmo que sozinho, pois pretendia fazer um treino, pedalando durante a madrugada, para a participação num Audax 300 km, que geralmente começa às 23 horas.

Saímos à procura do restaurante onde as reservas haviam sido feitas. Detalhe: foi combinado que jantaríamos entre 9 e 10 da noite e já passava das 11 horas! Como era de se esperar, já estava fechado, mas havia alguns clientes dentro. Apesar da atendente nos olhar com uma cara feia devido ao atraso e de mostrar que não pretendia abrir, acabamos entrando para jantar. O resto do grupo chegou cerca de uns 20 minutos depois.

Inicialmente não pretendia jantar. Somente comer um sanduíche que tinha levado tomando coca-cola :), algumas frutas e uma barra de cereal. Mas ao ver a comida, que estava com uma 'cara' boa e um cheiro delicioso, não resisti. Mandei ver dois pratos caprichados! Após 'matar' o que estava me 'matando', a fome, fui arrumar o pneu da bike.

Ainda bem que mais uma vez recebi ajuda de um amigo do grupo. Foi difícil retirar e também recolocar o pneu, para poder trocar a câmara, mas felizmente conseguimos e, depois disso, o pneu não esvaziou mais.

Estava prestes a aceitar o convite de alguns integrantes do Grupo Pedal Continente para voltar de ônibus com eles, quando um biker me perguntou se eu voltaria pedalando. Sozinho eu não estava animado, mas agora teria companhia até a Trindade. Combinamos que voltaríamos pelo asfalto e começamos a nos preparar. Compramos água, troquei o farol dianteiro, verificamos as bikes e partimos!

Cheguei a procurar alguém do grupo para dizer que não iria mais com eles, mas eles já estavam a caminho da Gruta.

Logo na saída, cerca de 45 minutos do sábado, uma placa indicativa exibia: 13 km até a BR-282 e 53 km até a BR-101. Pelas minhas contas, o retorno seria mais longo, mas, sendo no asfalto, seria mais rápido.

Como Angelina fica num vale na região serrana, teríamos que subir antes de começar a descer. Mas nenhum dos dois imaginava que seriam mais de 10 km de subida! Já tínhamos subido muito e ainda faltavam muito mais subidas, quando meu colega, que sentia muitas dores no joelho direito, resolveu empurrar a bike na subida, para amenizar o sofrimento dele. A partir deste momento, toda subida ele empurrava, enquanto eu pedalava, esperava ele chegar, me ultrapassar e depois eu voltava a pedalar.

Era tanta subida que eu suava mais do que no Audax, mesmo com a temperatura beirando a casa dos 10 graus. A água estava prestes a acabar, quando achamos um quiosque aberto para atender aos peregrinos que eram poucos, mas ainda caminhavam em direção a Angelina. Pode-se dizer que foi uma benção encontrar o quiosque aberto e com um vendedor gente boa, pois nos vendeu quatro garrafinhas de água por '5 pila' (era tudo que nos restava, o preço normal da garrafinha era R$ 2,00) . Ele também nos informou que faltava cerca de 1 km de subida e depois seriam 23 km de declive! Agradecemos muito e partimos.

Fui pedalando e meu amigo empurrando, até chegarmos ao topo, onde a descida iniciou. Descemos um bom tempo, mas não 23 km. Mais um pouco e chegamos ao Portal de Rancho Queimado. Depois de mais um tempo descendo, não muito, nova subida, pouco íngrime, mas extensa.

Terminada a subida, veio a descida mais sensacional que já fiz em cima de uma bike. Estava escuro e os faróis iluminavam pouco. A descida era bem forte e o asfalto estava sem buracos. Nossa velocidade média era em torno de uns 50 km/h, eu acho. O vento no rosto, a adrenalina correndo nas veias e a descida não terminava. Normalmente íamos pelo meio da pista, entrando no acostamento quando algum veículo passava por nós e retornando para a pista de rolamento logo em seguida. Não sei quantos quilômetros descemos, mas sei que foi uma sensação incrível e uma aventura inesquecível e indescritível através de palavras!

Voltamos ao esquema de aproveitar as decidas e planos e diminuir o ritmo nas subidas (mesmo poucas e não tão fortes, meu colega somente conseguia subir empurrando). Também aproveitávamos para fazer pequenas paradas de descanso.

Faltando 5 km para chegarmos à BR-101, paramos no portal de Palhoça. Tomamos um pouco d'água, comemos e descansamos por uns 5 min. Até deitamos. Acho que se ficássemos mais um pouco deitados eu acabaria dormindo por ali. Já estava ficando difícil ficar acordado.

Voltamos a pedalar e o cansaço nos fez parar num posto já próximo do trevo para Florianópolis. Conversamos e combinamos o restante da pedalada. Dividimos o sanduíche que tinha levado para ser minha janta, descansamos um pouco e partimos. A vontade de dormir aumentava.

Retornamos à pedalada e paramos um pouco antes da Ponte Pedro Ivo. Decidimos passar por cima da mesma, ao invés de irmos pela passarela, pois ainda estava escuro, mesmo sendo quase 6 da manhã. Meu colega ainda me passou metade de uma garrafinha de água que sobrou e uma pastilha de repositor de energia (que transformava a água em um 'Gatorade'), pois ele me disse que eu precisaria, afinal de contas, pedalaria pelo menos uns 20 km a mais em relação a ele.

Atravessamos a ponte, pegamos a ciclovia da beira mar norte (onde meu colega pedalou em pé na bike para diminuir as dores no joelho direito) e já comemorávamos a conquista deste retorno. Ao chegarmos na passarela próxima ao teatro do CIC, nos despedimos e cada um tomou seu rumo: ele Trindade, eu Ingleses.

De cara tive que encarar a subida do morro do cemitério do João Paulo na SC-401. Estava tonto de tanto sono que sentia. Aos poucos consegui vencê-la. Próximo ao Centro Administrativo do governo, parei em uma casinha de ponto de ônibus. Acabei com as frutas que ainda tinha e também com a última barra de cereal. Descansei um pouco, torcendo para que o sono passasse, mas isso não aconteceu.

O dia tinha acabado de amanhecer. Não tinha outra opção que não fosse voltar a pedalar. Conhecia muito bem o percurso e sabia que faltava bastante ainda: seriam 20 km que aparentariam uns 40 km pelo menos!

Talvez uma intervenção divina ou reflexos condicionados, o certo é que coloquei no 'piloto automático' e fui quase dormindo em cima bike. Algumas vezes cheguei quase a cair em buracos, até perceber a direção errada e voltar para o caminho. Para 'contribuir', estava difícil ficar sentado. Foi assim todo o caminho, somente melhorando quando cheguei ao topo do Morro dos Ingleses. Desci aproveitando o vento no rosto para me acordar e pouco tempo depois cheguei em casa!

Foram 201.7 km pedalados no total. Somente na volta foram 107.6 km, numa média de 19.5 km/h e gastando cerca de 5 horas e 31 min.

Só queria um banho, tomar água, comer algo e descansar!

Na parte da tarde, ainda fui à praia comer um peixe e descansar à beira mar, aproveitando a tarde maravilhosa e o barulho do mar ajudando no meu descanso.

Pedalei, muito, muito mesmo!

ps.1: meu dedo mindinho da mão direita ainda está 'anestesiado', mesmo depois de 30 horas após a pedalada...

ps.2: passei o resto do dia cansado e me recompondo, pois o cansaço foi extremo, mais do que todas as participações nas provas de Audax.

ps.3: meu MP-4 travou e não tirou mais fotos logo após a chegada a praça de Angelina-SC, motivo pelo qual não fiz qualquer registro na volta.

ps.4: acredito que fiquei com créditos em relação às Graças e ao perdão dos pecados, se levar em conta o sofrimento da volta! :)

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